No início da minha vida com a Bete, ainda criança, tive uma das experiências que marcou a minha trajetória na companhia dela.

Recordo-me como se fosse hoje: eu sentada num sofá no fundo do consultório, meus pais na cadeira à frente da mesa e o endócrino já muito renomado, discorria sobre a minha condição.

Num dado momento, como se eu não estivesse ali, o médico falou em alto e bom som aos meus pais: “preparem-se, pois aos 18 anos esta menina vai enfartar. Entendam que a artéria é como um cano e o sangue, com o aumento dos níveis de açúcar, se assemelha ao caramelo, que vai sendo depositado na parede até que resulte no entupimento total dele, ou seja, da artéria!”.

Meus pais se entreolharam desesperados com a notícia, mas, principalmente num pedido mútuo de socorro em conter este sentimento para me tranquilizar. Em seguida olharam para trás com um sorriso amarelo e eu, no auge da minha adolescência, ouvi o discurso sem interpretar de maneira drástica, (talvez pela minha pouca idade, ou por desde aquela época, acreditar muito mais na força do meu querer).

Não acredito que exista a melhor forma ou a ideal para que um médico dê a notícia ao paciente e/ou familiares sobre alguma doença, mas creio que se colocar no lugar do outro amenizaria, e muito, a maneira de transmiti-la.

Os profissionais da saúde devem ter a consciência de que são autoridades perante as pessoas e tudo que lhes disser tem um peso enorme!

Eles possuem em suas mãos o poder de condenar uma pessoa à vida ou à morte!

No caso do diabético as complicações fazem parte de um possível cenário, mas não necessariamente ele as vivenciará.

O endócrino fará parte da minha vida, assim como da vida de outros diabéticos, por um longo período, afinal estamos aqui tratando de uma doença crônica, com a qual viverei até o final dos meus dias.

Para falar sobre os possíveis desdobramentos da Bete deve-se levar em conta a maturidade do paciente que ouvirá sobre isso e, principalmente, analisar a evolução da doença em cada caso.

Isto porque abordar sobre uma complicação deve ocorrer se a condição do diabético demonstrar que este será um possível cenário com o qual ele deverá, realmente, se preocupar.

Alertar sobre a importância de um bom controle glicêmico, explicando que através dele se pode evitar uma série de transtornos que a Bete causa, é sim o papel do médico. Mas colocar um prazo de validade determinando quanto tempo está pessoa viverá é algo inadmissível!