É inevitável que as pessoas pensem em feridas/úlceras e as relacionem com amputação quando o assunto é Diabetes. Isto soa como uma sentença e não é verdade! A grande questão é que, quando a Bete está controlada e é acompanhada por uma equipe médica, é muito pouco provável que isso ocorra.

Recentemente, tive a oportunidade de me encontrar com um médico do Instituto Dante Pazzanese e, infelizmente, ouvi sobre mais um caso de amputação. Como sei, após mais de três décadas como diabética, que esse tipo de medida é evitável, questionei sobre os motivos que resultaram nesse procedimento. O que ele me contou foi chocante e triste: quando o paciente finalmente encontrou um local que pudesse tratá-lo de maneira correta e com profissionais especializados no tratamento da diabetes,  já era tarde demais.

Um dos maiores problemas é a falta de locais específicos para o tratamento da diabetes, especialmente pelo SUS. Os pacientes acabam indo a postos de saúdes e Unidades Básicas de Saúde (UBS) que não possuem profissionais capacitados na doença e suas complicações.

Os poucos centros “especializados” que existem também apresentam problemas. Essas unidades não são amplamente divulgadas e, na maioria das vezes, os pacientes sequer sabem que elas existem. Alguns locais contam com a presença de um endocrinologista, quando, na verdade, seria necessária uma equipe multidisciplinar, já que a diabetes vai muito além do controle glicêmico; são necessários profissionais capazes de auxiliar na prevenção e cuidados com complicações.

Uma solução seria um profissional especializado capaz de verificar um membro em risco e outros sinais de agravamentos da Bete. Muitas vezes, uma pequena ferida, que a olho nu e leigo não passaria de uma “casquinha” ou picada de inseto, pode ser o início de algo muito maior.

O Brasil é um dos países com os maiores índices de amputações (não traumáticas) e outras complicações em decorrência da Diabetes. Para mudar esses números, nós precisamos investir na prevenção. Um pacote básico e simples de medicações, profissionais capazes de ajudar os pacientes a identificarem riscos e tratamentos imediatos são essenciais para iniciar um plano de controle da diabetes no país.

Além da dignidade do ser humano, saúde e vida (princípios garantidos em lei para o cidadão), vale ressaltar o custo que uma pessoa mais doente apresenta para o Estado. Um paciente com Diabetes custa X reais. Um paciente com Diabetes + complicação custa XX reais. Um paciente com Diabetes + 2 complicações custa XXX. E assim por diante.

Nem todos os diabéticos são negligentes com a condição. Muitos querem se tratar, mas não encontram onde e como. Outros tantos não conseguem nem exatamente saber o que tem por falta de orientação correta. Até quando membros precisarão ser amputados para que isso mude?